quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Argentina: dezenas de milhares protestam contra o Governo



Poucas praças há no mundo que tenham a transcendência política para um país como a Plaza de Mayo na Argentina. Foi ali onde em 17 de Outubro de 1945 dezenas de milhares de trabalhadores se encontraram para pedir liberação do general Juan Domingo Perón, detido pelos militares. Foi ali onde começaram a manifestar-se as mães e as avós dos desaparecidos sob a última ditadura (!976-1983). E foi onde, pela terceira vez em seis meses, se concentraram na Quarta dezenas de milhares de trabalhadores, muitos deles peronistas, para exigir melhoras salariais ao Governo peronista de Cristina Fernandez. E não somente melhoras salariais.

"É inacreditável que nesta praça que tem história tenhamos que vir a reclamar por nossos velhos e por nossas crianças", se queixou Hugo Moyano, líder do poderoso sindicato dos caminhoneiros e da opositora Confederação Geral do Trabalho (CGT). Na praça se tinham concentrado três ramos gremiais que até poucas semanas andavam enfrentados. Mas foi Moyano o último orador e o que mais dano infligiu ao governo. Era Moyano o que podia disputar Fernandez com bandeira de sua luta contra o FMI e dizer, como disse já "O Governo aplica as receitas mais ortodoxas do FMI. Ela não necessita que lhe deem ordens, o faz por próprias convicções. Em nosso próprio país está passando um ajuste encoberto que, como todos os ajustes, pagam os trabalhadores."

É Moyano quem mais impacto tem no eleitorado peronista quando declara, como disse: "Se o general (Perón) se levantara, não sei o que faria com estes que agora falam de peronismo". Moyano chegou à mesma Plaza de Mayo onde Fernández tinha festejado dias atrás o dia dos direitos humanos e se queixou de que o Governo está ficando com o dinheiro da saúde dos trabalhadores e de que não acata com as falhas da Justiça que ordenam pagar as dívidas aos jubilados: "Parece que estão esperando que se moram para não pagá-los. Depois nos falam dos direitos humanos".

Moyano terminou seu discurso dirigindo-se a Cristina Fernández com estas palavras: "Senhora presidenta, ocupe-se da inflação que come os argentinos. E ocupe-se da insegurança. Tem todos os instrumentos a seu alcance para ocupar-se da insegurança, a insegurança que preocupa a todos os argentinos". Inseguranças, insegurança, insegurança...O líder sindicalista empregada a mesma palavra que Fernández tinha tratado de evitar nos mais de 200 discursos que pronunciou neste ano, até que na semana passada encontrou a forma de culpar dela os juízes.

Por suposto, antes de mencionar a inflação e a insegurança, os oradores reclamaram melhoras nas pensões e a eliminação de impostos para os trabalhadores. Mas aproveitaram para golpear o Governo onde mais se dói: nas eleições legislativas de 2013, as que podem abrir ou fechar a porta a uma maioria dos terços no Congresso, a necessária para reformar a Constituição e permitir que Fernández opte a um terceiro mandato. Moyano avisou: "Vamos votar em quem garantir os direitos, não podemos nos equivocar mais!".

Via Elpais

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