TSIDMZ significa THULESEHNSUCHT IN DER MASCHINENZEIT,
isso quer dizer Sehnsucht (nostalgia)
por Thule em um Tempo de Máquinas. Thule é um “espaço primordial”,
provavelmente um lugar físico, mas indubitavelmente, um domínio metafísico. De
acordo com a mitologia indo-europeia, os povos indo-europeus que outrora
habitaram as terras da Eurásia eram descendentes de Thule, a última terra
remanescente do continente Hiperbórea. De uma maneira muito breve e grosseira,
podemos dizer que Thule é equivalente ao Éden bíblico. É o lugar da “perfeição”
original, o lugar dos ancestrais e heróis que viveram próximos ao divino. A TSIDMZ
expressa exatamente esse tipo de nostalgia de um ponto de vista pessimista,
significando “ausência”, e também de um ponto de vista construtivo,
significando uma nova realização. Portanto, essa nova realização deve ser
alcançada em nossos tempos, “In Der
Maschinenzeit”. Será possível realizar uma sociedade justa, sublime e
“espiritual” na era pós-atômica? Será possível combinar a máquina com a
Tradição? De acordo com a TSIDMZ uma possível resposta pode ser encontrada no
Futurismo, a nível artístico e cultural, e no Socialismo, a nível político e
social. Como consequência, música eletrônica e toda forma de arte “industrial” tornam-se
imperativos. No que tange aos níveis social e político o Homem deve ser o
mestre da máquina, e não mais um escravo ou vítima. Da mesma forma, a nível
cultural o Novo Homem precisa se integrar com a máquina, que deve tornar-se
parte de sua nova cultura com o objetivo de dar continuidade aos valores
tradicionais com essa nova ferramenta. Como resultado, isso irá criar uma
identificação artística e estética, que dará uma nova identidade apropriada ao Arbeiter, como Jünger o entendeu (o Arbeiter é o conceito de E.Jünger sobre
o Novo Homem que combina técnica e visão ascética/metafísica). “A técnica é o meio pelo qual a figura do
trabalhador mobiliza o mundo.” – E. Jünger. Como consequência, a TSIDMZ apreciou
a ideia, o conceito e o tema eurasianos: equilíbrio social, superar todas as
ideologias, uma weltanschauung
metapolítica e metafísica para reconquistar a Eternidade na pós-modernidade. A
TSIDMZ é parte da Associação de Artistas Eurasianos: https://www.facebook.com/EurasianArtistsAssociation. [Fonte: página da TSIDMZ no facebook]. Em minha opinião, a
TSIDMZ é uma das melhores e mais interessantes bandas da atualidade: letras
profundas, temas sérios, música dramática: é uma bomba que irá explodir sua
mente se ela está sob o controle do Big
Brother. A entrevista com o líder da banda, Tetsuo, também conhecido como
Uomo D’Acciaio (ideias, música, atmosferas, amostras, distorções, efeitos) foi
feita em 17 de Outubro de 2016.
Você
trabalhou com uma pletora de artistas ao longo dos anos. Quais colaborações
foram/são as mais interessantes e importantes pra você, e por quê?
Eu tive a chance de trabalhar
com muitos artistas e amigos que eu sempre gostei e apreciei. Cada colaboração
foi importante para o enriquecimento cultural e musical do som da TSIDMZ e teve
uma origem e história excepcional.
Das primeiras colaborações com
Lonsai Maikov, Rose Rovine e Amanti, Heiliges Licht, [distopia], Narog, etc.
até as últimas com Gregorio Bardini, barbarossa Umtruk, Order Of Victory, L’Effet
C’Est Moi, The Wyrm, Corazzata Valdemone, Gnomonclast, Strydwolf, Suveräna,
Horologium, Porta Vittoria, Sonnenkind, Le Cose Bianche, Valerio Orlandini,
Winterblood, the Serbian poet/writer Boris Nad etc, eu posso dizer com orgulho
que a música sempre foi e é muito variada e em constante evolução e
enriquecimento.
Você
pode me dizer, resumidamente, quais são as principais ideias por detrás de sua
música? Você poderia mencionar suas composições, álbuns e colaborações
favoritos?
Por detrás da música da
ThuleSehnsucht há a fascinação pela relação dos opostos, a descoberta do
desconhecido e a busca pela beleza, majestade e metafísica.
Eu gosto de tudo que fiz ainda
se em uma viagem hipotética ao passado eu quisesse melhorar ou mudar algumas
coisas. Cada música, CD, compilação, trabalho avulso e colaboração possui uma
história, origem, desenvolvimento e esforço único, então é difícil dizer o que
eu prefiro. Tudo foi útil para o nosso crescimento.
Uma menção especial vai para
Barbarossa Umtruk. Um artista francês muito prolífico, original e talentoso que
eu amava antes de começar minha própria música. Ele encontrou uma alquimia de
sons única e temas que me fascinaram muito e influenciaram profundamente minha
abordagem pessoal à música e a alguns temas.
Por essa razão e em primeiro
lugar pela amizade que estabelecemos de maneira espontânea, nós fizemos muitas
músicas em colaboração e por isso ele é o único artista presente em toda a
trilogia da TSIDMZ (Pax Deorum Hominumque, Ungern Von Sternberg Khan, René
Guénon et la Tradition Primordiale) com duas músicas em cada álbum. Da mesma
forma, eu tive a chance de estar em alguns de seus trabalhos: La Fosse De
Babel, Der Talisman Des Rosenkreuzers: La Mission Secrete Du Baron
Sebottendorf, Tagebuch eines Krieges (2005-2015).
O novo álbum está indo bem,
mas não como os últimos três CD’s físicos. Ele é menos marcial e muito mais
meditativo. Se Pax Deorum Hominumque, por exemplo, possui uma abordagem fácil,
o álbum René Guénon et la Tradition Primordiale requer maior concentração e
interesse sobre o assunto que eu trato em cada música. Uma boa maneira seria
escutar o álbum acompanhando os textos (disponíveis através do Facebook e
Bandcamp da TSIDMZ). E dali em diante minha esperança é que todos comecem uma
pesquisa e um estudo de maneira profunda e pessoal, interessando-se pelos
temas.
O
som é mágico. Você provou isso. Porém, o que resta quando não há música?
Som é energia e Deus é pura
energia (pensante) então talvez o som puro nunca irá acabar.
O
que é e o que não é um som artístico?
Arte em geral deveria estar em
primeiro lugar na promoção/educação da beleza, natureza e espiritualidade. As
artes deveriam elevar a humanidade, deveriam proporcionar visões do todo e da
eternidade e ao mesmo tempo deveriam exorcizar a realidade. Esses são os
elementos menos presentes nas “artes” modernas.
Arte, nesse caso, arte
musical, significa também trazer algo (em ideias, ou sons, ou em textos em um
estilo específico de voz) do “mundo das ideias” platônico para esse mundo.
Imitar outro artista, repetir o que já foi dito por outros e “copiar e colar”
não é arte. É muito mais uma questão de ser bom ou ruim tecnicamente ou como
banda cover.
O
que você pensa sobre as relações entre a arte antiga e a arte de computador?
Elas são compatíveis?
O computador, como toda coisa
inanimada, é uma ferramenta. Uma arma não mata até que alguém a utilize para
matar e o computador não mata a arte ou a música até que você o utilize para
fazê-lo. Em toda coisa inanimada o que importa é qual o “espírito” que há por
detrás dela. Com qual espírito, valor, princípio, visão de mundo e filosofia
você utiliza o laptop, a arma, o carro, a família, música, sexo, matemática
etc. Aqui se encontra a questão principal e a primeira de todas.
Ferramentas são só coisas
inanimadas até que você decida como e quando usá-las. É claro que algumas
ferramentas são mais perigosas que outras e requerem mais atenção e mais
consciência, mas uma sociedade doente não deveria usar sequer uma colher. Tudo
o que uma sociedade doente ou uma filosofia doente ou uma pessoa moralmente
doente usa e faz estará errado. De maneira oposta, uma sociedade saudável ou
uma pessoa saudável ou uma Weltanschauung
saudável irão usar de uma maneira apropriada até mesmo o fogo. Para concluir,
tudo pode ser feito (não por todos), mas depende como é feito.
O
que você pensa a respeito dos milhares de projetos de bandas eletrônica,
neofolk, industrial, ambient, tribal, eletroacústico, avant-guarde etc? É um
tipo de tendência, ou uma inclinação em direção à músicas melhores?
Em
todos os lugares e em todas as épocas da história sempre houve muitos artistas,
músicos, instrumentistas e assim por diante. A única diferença é que agora com
as tecnologias, internet, plataformas web e etc. é mais fácil divulgar a
própria música e as performances. O que você escutava na taverna, na festa do
vilarejo ou nas ruas, hoje pode ser escutado em casa através de um dispositivo,
porque as tecnologias permitiram gravar o que uma vez só podia ser tocado e
escutado em um evento público.
Agora
nós podemos ter tudo imediatamente e a primeira consequência disso é a produção
em série e desvalorização de tudo, a falta de entendimento profundo acerca do
que escutamos.
O
problema toca a questão da socialização e da qualidade.
Se
outrora a música foi um agregador social e cultural, agora o homem pós-moderno
pode isolar-se completamente de qualquer contexto social e pode escutar o que
quiser no momento em que quiser (e na maioria das vezes, o que o sistema quer
que você escute. É o zeitgeist! A solidão pós-moderna, consequência do
extremo individualismo, a desintegração social e a falta de valores
tradicionais e naturais controla mais e mais as nossas vidas. É claro que até
no passado a música era tocada e escutada em solidão ou em situações muito
privadas, mas o que era uma exceção ou apenas uma das muitas formas de se
escutar música agora se tornou a norma.
Então
nós chegamos na qualidade. O fato de que agora podemos gravar qualquer coisa
que quisermos não significa que estamos indo em direção a uma música superior
ou a coisas de maior qualidade. Quantidade raramente significa qualidade. Nós
temos uma sobrecarga de álbuns que saturam a escuta. Muitos desses álbuns são só
boas composições técnicas, repetição das estruturas habituais de grandes
artistas históricos que são chamadas incorretamente de arte.
Imitação
não é arte, é apreciável e legal, mas não é música ou arte superior. Ter uma
atitude de “banda cover”, uma “atitude de DJ” ou possuir uma boa técnica no que
tange à música não é suficiente para preencher a palavra arte. Um som original,
textos originais ou músicas originais ou composições originais não são poucas,
mas também não são propriedades de qualquer músico. Como eu disse, arte
significa trazer algo do “Mundo das Ideias” para esse mundo; quantos dos ditos
artistas fazem isso?
Então
com a internet a qualidade definitivamente caiu. A internet deveria ser uma
maneira de promover e começar para observar como a sua arte funciona; a
pós-modernidade é um mundo líquido (dinheiro falso que não existe; o deus
invisível chamado mercado que hoje governa tudo; a ideia de que tudo é
permitido e não há certezas) e o mp3 sem graça e de baixa qualidade em uma
plataforma web que hoje existe, mas amanhã talvez não, é outro elemento da
decadente “sociedade líquida” em que vivemos. Não se tem certeza sobre nada,
nada mais é qualitativo, tudo é massivo, quantitativo, plastificado, em série,
sem nenhum entendimento profundo e mensurável unicamente através do dinheiro...
e hoje nem o dinheiro possui um valor real; dinheiro líquido, sem ouro ou um
papel correspondente, devido ao fato de que uma grande quantia de dinheiro é
criada diariamente na virtualidade (com a consequente usura e especulação).
Concluindo, o primeiro passo urgente é retornar à
natureza, nos tornarmos “muito humanos”, e libertarmo-nos desse mundo
desumanizado e cada vez mais mecanizado. Referente às artes, um bom ponto de
partida poderia ser recuperar o prazer de ler um livro físico ou escutar música
em um vinil ou em um CD; na verdade, é impossível ter um controle total e uma
compreensão completa de algo até que esse algo esteja somente na virtualidade
ou em estado líquido.
Quando conseguirmos re-descobrir o valor de uma
sociedade real-concreta que raciocina pelo bem comum, para a beleza física e
metafísica e para as raízes das pessoas e identidades e não para os interesses
do mercado, talvez será mais fácil iniciar um novo caminho em que a música
também se incline ao melhor e em direção a ideias mais originais...
O que mais
inspira você?
Deus, beleza, majestade, eternidade, opostos,
filosofia, metafísica, metapolítica, geopolítica, mitologia, religiões,
tradições, identidades, pessoas, ideias e ideologias, história, arqueologia
corrente e arqueologia oculta, futurismo, cinema, a relação homem-máquina,
surrealismo, vida e morte, música industrial, clássica, folk, étnica,
eletrônica e rock (metal).
No que você está trabalhando agora?
Está sendo planejado um novo álbum com um som
novo, novas ideias e novos temas, mesmo que os anteriores ainda estejam sempre
presentes de uma forma ou de outra. Além disso, o projeto está sempre ativo em
suas colaborações, compilações temáticas e trabalhos separados.
O que o nome da sua banda significa para você? Que
ideologia/religião/visão de mundo você segue?
Significa tudo que eu fui e ainda sou. Significa
minha principal Weltanschauung.
TSIDMZ é um acrônimo para ThuleSehnsucht
in Der MaschinenZeit; isso quer dizer Sehnsucht
(nostalgia) por Thule em Tempos de Máquinas. É uma frase que une a parte
espiritual com a parte filosófica e a parte artística e musical da minha
pessoa. Em poucas palavras, sou eu.
É uma frase que também foi influenciada
profundamente por esta famosa frase de E. Jünger: “A técnica é o meio pelo qual
a figura do trabalhador mobiliza o mundo.”.
“O Trabalhador” é o Novo Homem de E. Jünger, que
combina a técnica moderna e visão ascética/metafísica; em um nível cultural
esse Novo Homem precisa se integrar com a máquina, que se tornou parte de sua
nova cultura, para que ele possa dar continuidade aos valores tradicionais com
essa nova ferramenta.
Eu não me prendo a nenhuma definição. Nem na
filosofia e nem na música. Para todo campo humano há muitos rótulos como se fossem
marcas comerciais e muitas pessoas que não pensam, são monótonas, iguais em
tudo (iguais de maneira inferior e não superior).
As pessoas estão cada vez mais cegas que nunca
irão ver o quanto já está condicionado pelos contravalores pós-modernos e antinaturais
e pela miríade de mentiras e pseudomitos modernos e pós-modernos em que
vivemos. Pensar com seu próprio cérebro significa ser humilde para escutar,
descobrir, ler, comparar e entender profundamente (e não com um punhado de
frases encontradas nas mídias sociais) o que é totalmente oposto ao que a mídia
e o presente sistema orwelliano mandaram você pensar até agora. Esse é só o
primeiro ponto para começar a dizer: “Eu penso”.
A humanidade pós-moderna está no ápice da
desumanização, no ápice do afastamento da natureza e da vida concreta e real.
Iluminismo, uma espécie de nova religião sem um
deus transcendente (como todo materialismo, progressismo, evolucionismo,
internacionalismo, ideologias de liberação, feminismo, veganismo e assim
sucessivamente com todo o resto de “religiões” modernas construídas ao redor de
falsas construções mentais e elementos singulares transformados em absolutos
para toda realidade), realizou o primeiro passo para o afastamento de Deus (com
o slogan/desculpa frequente de “oh como são ruins as religiões”... seria a
bomba atômica ou todo o mal materialista e “laicista” dos últimos séculos uma
consequência das religiões!?), e o último passo foi dado com a atual desconexão
pós-moderna em relação à vida, à natureza, ao pensamento lógico e simplesmente
de sermos humanos.
Em suma, nós podemos dizer que de um deus
transcendente no centro do universo nós ganhamos o mercado no centro do
universo.
A melhor solução é ter fortes princípios
tradicionais e só então considerar qualquer tipo de música, qualquer filosofia
e qualquer ideologia. Quando você possui princípios fortes, identitários,
naturais, eternos e espirituais, quando você possui uma filosofia holística
verdadeira (e não sectária como muitos modernos erroneamente chamam as “filosofias”/conhecimentos),
quando você sabe que tudo possui uma origem divina ou espiritual (apenas leia
Platão) e limites muito específicos impostos por princípios metafísicos (e
portanto você é forçado a não fazer qualquer coisa permitida pela tecnologia ou
humanos comuns) quando você entende que a matéria é limitada e o ilimitado
(como é o mercado) é um contravalor antinatural, quando você entende que o bem
comum é o valor mais alto em uma sociedade, quando você entende que primeiro
existe a família e os povos com suas histórias/identidades próprias, únicas,
específicas que precisam ser preservadas para que sobrevivam (esse sentimento
deveria ser instintivo e padrão, e o fato de que a modernidade o destruiu em
muitos povos, é outro sinal da completa desconexão com tudo que é natural e
lógico), você também é capaz de compreender o melhor de cada situação e
construir a sua “vontade de poder” / moralidade e talvez estar “além do bem e
do mal”.
É claro que o mundo pós-moderno não ajuda de modo
algum. O “pensamento fraco” e o pior relativismo dominam.
O Novo Homem, o “Übermensch” deve lidar com isso, é
a última luta.
“Atualmente nós não estamos em guerra contra uma
nação, contra um fenômeno, contra um partido ou uma ideia política, mas sim
contra o surgimento de um novo e apavorante aeon,
um aeon que irá varrer tradições,
irá inverter valores, irá aniquilar e substituir a essência profunda, real e
espiritual do ser humano com identidades falsas, baixas e demoníacas. Como
consequência nós precisamos ser Futuristas: assistindo ao futuro e à técnica
como uma continuação em relação ao passado e à tradição.”
TSIDMZ –ThuleSehnsucht In Der MaschinenZeit-
Obrigado
Tradução: Maurício Oltramari